30 de março de 2009

Palavras

Não há muito que se possa dizer... Acho que tudo já foi dito entretanto. Enquanto escrevo, quase toda a gente já disse tudo o que interessava, ou quase tudo.
Em parte podem ter calado as suas confissões, eles sabem que alguém as revelou, já, ou as revelará, amanhã.

Não tenho mais a dizer. Mas pergunto: que frases omitiram hoje? O que vão dizer amanhã?

Nunca se arrependeram do uso que deram às palavras?

16 de março de 2009

metafísico sem uma meta é só físico, algo que compreendemos razoavelmente bem sem recurso a bibliografia.

ver a vida por um prisma. ver um raio de luz desdobrar-se nos espectros de côr que o constituem. como tirar um véu, despir alguém, ler um diário. antes de nós todos falharam. falavam da natureza, da humana e da das coisas materiais e espirituais. e nunca mais se calaram. ainda hoje os ouvimos em sucessivas tentativas de substituir os dogmas do passado pelos paradigmas do presente, conscientes das limitações da nossa espécie no que diz respeito a declarações começadas por: a verdade é. como se a verdade nos dissesse respeito. se fosse suposto sabermos alguma coisa sobre coisa alguma não precisaríamos de um prisma, nem de estender a mão para descobrir um qualquer véu. e por aí adiante.

nós dispensamos a responsabilidade de saber, de informar, de guiar.
não há nada de que não tenhamos percepção imediata sobre o que esperemos vir a possuir qualquer nível de sabedoria a posteriori. nascemos com demasiadas debilidades nas nossas estruturas subconscientes, a tal ponto que não encontramos no nosso horizonte de possibilidades uma única que nos permita estabelecer uma ponte de comunicação com alguém e transmitir uma ideia. por mais simples, decomposta, indivisível, banal, que seja. é nossa. e um nosso que seja nosso é possessivo por definição, é indissociável da nossa condição, da estupidez crónica que sustem a nossa inteligência. é, numa palavra: um-não-tens-nada-que-ver-com-isso-e-mesmo-que-tivesses-eu-não-to-conseguiria-explicar-ou-talvez-simplesmente-não-esteja-para-aí-virado. logo, não esperes de nós qualquer palavra, nenhum dos nossos dedos se vai erguer para te apontar o caminho a seguir. simplesmente, não importa. o mapa já foi desenhado, os continentes delimitados, todas as coordenadas estão marcadas. a herança que as gerações nos transmitiram com carinho e com todo o seu suor: um livro demasiado rasurado para que possamos agora acrescentar um rascunho que seja. um mundo no qual terra-prometida não passa de uma expressão linguística e, no qual, niilismo se confunde cada vez mais com qualquer coisa que esteja à frente dos nossos olhos pois, no fundo, essa falha, esse vazio é tudo que nos salta aos olhos no meio da imensidão das coisas que assimilamos ininterruptamente.

9 de março de 2009

E Irás Talvez Ferir-te Nos Meus Destroços

Horas em linha, mas desta vez tudo entorpecidamente equilibrado na justa omoplata de razão e embraseamento oculto na introspecta insurreição da nossa memória metafísica, e também, uma vez mais, no plural, desta feita sem meras perguntas ou ousadas questões químicas sob os gestos férteis como nunca e preponderantes quentes e obtusos como frias feridas cáusticas estendidas ao fogo do nosso ósculo. Bravos gestos incorpóreos, Bravo desinflamar estratégico às horas simétricas do esquecimento, que breve nevralgia de necessitar se encontrasse, agora, para não fazer a desfeita ao passado, nos caminhos e trilhos que seriam, agora, estradas inseguras e exíguas no agitadíssimo balanceamento demente da cogitação coerciva na dispensa abandonada que é cavidade do coração em cinzas nefelibatas.
Ainda assim me questiono se deixarás o silêncio abater-se sobre nós com o seu despótico murmurar gélido, e eu, que escrevo à luz da lua híbridos modernos de música e percepção, cegamente crente permanente e eloquente das quentes palavras soltas do pensamento, palavras soltas do pensamento, palavras soltas do pensamento que regem o amanhecer.
Contudo, portanto, mas não descuidando o enredo, se possível melhor, e ao seu perfume estrangeiro, quão exótica despótica fragrância salteadora dos sentidos olfactivos grevistas, que por vezes se opõem ao inexorável racionalismo, e que quase sempre deixam os melhores por terra ao fervilhar taciturno e medonho, de qual edifício nos encontramos, isto é chão duro e opulento da compaixão inalcançável, de qual casa ou lar no deserto inaudível dos segredos do corpo e das suas fugas na parede às estrelas que se fazem prisioneiras nas suas opiniões de brilho ostensivo efémero como se zombassem da nossa miséria maravilhosa em silêncio, qual estrutura magnífica em declínio de sentir sem o pulsar das premissas essenciais ao futuro, e agora a zombaria é a do ardente sol dourado da gloriosa manhã de soturnidade ofuscante, que pelo menos foram essas as tenras palavras que a percepção nos leu, incisivo ao primeiro cavo levantar de pálpebras, farejando o sangue seco das feridas interiores do tal narrador nefelibata, que se de isolamento e exercício mental de caminhos, opções e experiências celestes do interior flamejante se alimenta vorazmente, ao primeiro separar os lábios e, rapidamente, de repente, somos súbitos olhos a viajar o mundo que os rodeiam, e porque não a nós também, confluindo no silêncio vazio e alvoroço físico desta terra agitada e de joelhos nesta mesma terra e seu alvoroço rotativo de solidão e gente desfeita em sonhos ou nulidade, quase lhe suplicamos para parar de girar no sentido inverso ao dos movimentos incertos enigmáticos dos nossos corações secretos, para deixar o sol arder na nossa confusão de entranhas e sofrer bem, sorrindo, ao último deixar o cárcere, estrutura ou casa de rastejante, e cair na silenciosa percepção que nos trouxe até este insano equador da vida.
Sabendo tudo isto inconscientemente não nos sentimos concretizadamente nas nossas posições concretas de fertilidade, que se é isto que sabemos será esse posicionamento radiante de passos por dar e flores nuas nas suas duras cores sujas, viúvas esquecidas pela chuva, que a água tem os seus afazeres no perfeito ciclo dogmático, estejam as flores porventura erradas, e nasce por todo o lado e nunca morre, isto é, pela mesma natureza perfeita que é quase um feliz suicídio, mas sempre lhes chegou a água, que indolência termos julgado o contrário, que agnóstica heresia ateia, para se reproduzirem depois de se alimentarem e antes de alimentarem o futuro. E se isto não é perfeito, também eu cambalearei eternamente nos balanços duvidosos do tempo, que a percepção não terá todo o significado e talvez a água não me chegue à alma, em que iremos pensar sem a nossa louca sonolência de sentidos apurados, Mas a chuva caíu nas flores, não entremos em devaneios de ingratidão a esta terra, não supliquemos ao tempo com o mesmo coração que nos ajoelhamos ao chão desta mãe frondosa e completíssima, pois não só dele nada se concebe em pesada infelicidade ou glória, que importa, como foi ele próprio um filho ingrato de um filho ingrato, poderoso neto bastardo, intransponível àquela página inesquecível em que registei todos os gestos absurdos de ânsia de continuidade, ou contínua ansiedade, também não seria mentira nenhuma, e todos os movimentos arbitrários, tudo em linha, nas horas simétricas do nosso amor indivisível.
Aos momentos térreos do paraíso, um voo de mãos, no eterno sorrir de éter. Ao teu suspirar de pulsos, uma expressão envernizada e distante, que a face humana também consegue saltar por cima de todas as coisas, obstruiu os passos da nossa dança espiral de hálito, mas nada que o teu respirar quente não adormeça facilmente à pobreza incontornável, graves narizes sentimentais, que simetria de medo e contas incertas de paixão.
Não me perdendo neste soturno desperdício dissertar, faço-me lembrar às posições e vultos do posicionamento, pois será daí que desperdiçaremos dissertaremos mais seguros e confiantes. Mas ainda não está nada decidido, só para que conste no seio profundo do teu insciente responder. Talvez hoje sopre menos vento, brilhe menos o sol ou não venham as nuvens com a sua estranheza de mundo, talvez nem haja céu, na opressão do ameno conforto que te criou frágil e que na incerteza perfeita da natureza o universo metafísico se una todo, mas não, perdi-me outra vez a desperdiçar dissertar sobre o tudo e sobre o nada nulo, mais fundo, solene e versátil, na vaga calma, descoberto de mágoa e prazer, em perfeito exagero de frieza, que hoje, sim, hoje, neste dia, deu-se-nos a alma às antíteses e contradições e perfeições, mas descoberto de dor e de felicidade, muito mais solto, austero e sentido, em mim, em ti, na nossa magnificente auriflama de desconhecimento total à tua eterna disposição, à simetria de tempo que controlamos, Horas, aos gestos inarticulados no querer crer na verdade do destino, fado patriota, porque não, aos movimentos loucos no sulco de lanhos abertos que se te estenderam sinceros, teus, à desinência de laços perpetuamente frágeis através da trágica expressão que foi concertina de palavras feridas sob as absorventes raízes do mundo nulo, tolice seria desgastar com palavras a minha eterna memória da nossa delustre embriaguez, a ti.

6 de março de 2009

Amanhã Os Ecos Moldarão Sozinhos Todos Os Lugares Idos

Horas simétricas, e todos os gestos e movimentos em linha descolonizando, bravos gestos de fertilidade, as profecias esquecidas mesmo nas viagens mais longas, e tecem-se os laços, desinência, pois claro, que mais palavras desgastassem a nossa delustre embriaguez, aqui, no topo do mundo. O meu sulco de feridas perdido à tua mão é o nosso desinflamar estratégico e também o teu fornecimento obtuso de preponderância e desconfiança no estóico bulício corpóreo. Corte na tela infame de descoberta, incisão profunda no exigente olfacto infantil, miserável esculpir teu perfume, Movimentos em linha e duros e assombram-nos os irremediáveis espíritos de um conhecer anterior com o ar forte do paraíso, que não permanecesse magnetismo solene e estúrdia de pensamento, que velhos relógios perdidos no amanhecer guardassem devotamente a infusão perfumada das vossas tímidas complacências, demoradas, mas tudo isto seria nervosismo atípico e imperceptível ao âmago de nós, que me abrigo, não se façam as palavras de água em quedas, mas rapidamente se mostrariam ser as mais revolvidas de alma e olhando bem às intransigências meticulosas das nossas feridas abertas, esse revolver interior e transparecer imperceptível é o nosso estimado eufemismo de calma e prazer.
Mas no implacável avançar no mesmo sítio, não podemos esquecer-nos de que todo o fundamento se levanta do chão ao nosso perpétuo estremecer na distância, que todo o mito de perfeição nos movimentos aleatórios do amor nos caísse ao sentimento de mar aberto, futuro e nostalgia, e ainda aparentemente detínhamos o respirar por melhores horas que sempre viriam, não fossem todas estas palavras sonhos mal esquecidos ou brasas ainda quentes, sobreviventes de um fogo anterior e por isso dou-te um nome de água para que cresças no silêncio.
Asas cor-de-sonho, neste monstruoso perecer de saudade que largos sorrisos fossem as longínquas noções de nós sob o impulso da alteza da nossa inocência perpetuamente segura ao nosso chão. Filtros na saciedade que nos afastasse de nós, de tão leve espasmo de leveza espessa e concórdia, na mais alta das ambições aladas, neste mar de recônditos fundos e corais de línguas e mãos dadas que é o verbo metafísico estendido ao ressoar magnético do teu breve coração em chamas, o teu mais profundo precipício de amar e esquecer, Ah, mas as horas simétricas, as horas simétricas e as envolventes metáforas proxémicas, às quais oferecemos o nosso culto arbítrio de liberdade e políticas sofistas do crepúsculo mais isolado na nossa sensorialidade, se é que a palavra já tenha sido concebida, são alvos ao nosso grave respirar, porquê no plural se deveria perguntar, mas para isso, desinência, mesmo conhecendo as fatalidades herméticas do sinistro caudal de questões e o ar forte do paraíso.
Se o topo do mundo nos permitisse, quereríamos subir mais ainda, mas plácidos de superstição são os planos ingénuos de vida ou de morte, de qual questão nascemos nós. De que gérmen solene, mesmo as nossas orações arcaicas e o nosso bulício sibilante na incerteza ou dúvida que fosse a ponte entre toda a prosa de algum vacilar momentâneo e rosas ao objecto estupendo da nossa poesia.
Vejamos o novo dia nascer a voar nestas palavras, e neste enquistar violento, rapidamente somos fósseis encantados na meada química, que nós os homens lidos pelo tempo reconhecemos através dos desenfreados movimentos pendulares no limbo devasso à eternidade, oculta magreza da acção sobrepremediatada, que sim, nas minhas malas-artes sou um mago do neologismo, não me estranhe o leitor ou o crítico malbarate o fétido cansaço da tinta eterna, pois ela também o aparenta, mas rumando ao nédio futuro de algodão, que ainda na ausência do artifício, não se assuma necrose nos fios hermetica e devotamente tecidos da vida, mas a necessidade nevrálgica da nossa posição ancestral remanescente dos caminhos que tomamos, até mesmo dos trilhos que marcamos na mais pura e profunda intenção de seguir, que nos tornou pomposos nefelibatas do esquecimento outrem, rascunho no taciturno citar ao proscénio, lustrosa embriaguez.