Em português, "reportagem de estúdio". Diz que é para divagar sobre alguns aspectos do processo de gravação e assim. Bem, foi muito difícil. Custou-me mesmo muito. Uísque e charros. Incomensuravelmente. Horas e horas, eu contra o metrónomo, aberto, à espera de deixar a música violar-me, de instrumento na mão, quando podia muito bem estar a escrever abautemis relativamente maravilhosos no meu espaço pessoal, ou até mesmo a responder aos comentários das meninas. Noites e noites, desesperado por vê-la materializar-se, obstinado em assistir ao seu sagrado nascimento rarefeito; vidrado na busca do lugar perfeito para um bombo, para uma tarola, para um choque, para um raide; enfeitiçado pelas cordas que me sorriem um si de sétima, um mi bemol, as cordas que me choram um ré menor; imóvel ante o contraste preto e branco dum piano bêbedo, ora tecla branca, ora tecla preta, através da dicotomia anciã dos seus meios tons sem idade, em vez de sair de casa e ir ouvir dijeis de eléctro e snifar coca, como fazem os jovens que realmente são felizes.
Sim, tens razão, não devia estar a escrever poesia menor em jeito de crónica socio-pretensiosa, mas sim uma reportagem de estúdio. Muito bem: o processo de gravação ainda está a avançar no processo de gravação que no fundo é a maneira como se processou o desenrolar dos acontecimentos de capturar os sons que aparecem na gravação durante a audição do álbum que é também um processo mas que no fundo é só e ainda uma gravação, enquanto o outro processo está, como é óbvio, intimamente relacionado com o processo de criação, já mais daquele domínio do pseudo-artisto-conceptual aprazível a intelectuais de esquerda, mas é também um aspecto que ainda está a avançar no processo de criação no sentido em que ainda me falta muito fazer uma música. Percebeste? Lá está. Mas é sempre assim tudo muito desorganizado, tudo muito disperso, como não podia deixar de ser numa banda que consiste num só elemento, ainda que assaz bonito. É que fazer tudo sozinho dá um trabalho do caralho, só para que conste e rime.
Há desde músicas já completamente prontas até músicas completamente por fazer. São vinte e sete. A única certeza que têm é que vão estar todas no álbum. Chama-se "Borboletas Na Piça" e vai ter muitos convidados. Digo quem são? Digo. Tem que ser. Não são bem convidados. São amigos que, duma maneira ou de outra, também fazem, por assim dizer, parte deste intrépido projecto. São eles que ouvem as músicas quando ainda me parecem ridículas e que me ajudam a melhorá-las, de uma maneira ou de outra, até elas atingirem a sua forma final, que é quando já não me parecem tão ridículas assim. Obrigado a eles por respirarem. Note-se ainda que estas pessoas não são necessariamente músicos, mesmo que também os haja. Bom, sem mais demoras, consagrar-lhes-ei agora um parágrafo.
São eles - por exemplo e entre os mais-que-confirmados - a Patrícia Matos (www.plastessina.com), a designer que afirma ser a melhor pessoa do mundo embora eu ache que é apenas a melhor pessoa do Alto da Maia, e que faz a arte plástica desta cena toda; o André Cardoso (Death Will Come, Genoflie, As Far As Possible; www.myspace.com/andregenoflie ou www.suorsocial.blogspot.com), que para além de ser o produtor do álbum, é também pequenino, fofo e vai participar com um tema que escreveu integralmente e em regime de exclusividade; a Custódia de Barros, que é considerada por muitos a melhor autora de todos os tempos (sendo a sua última obra de uma magnitude e monumentalidade incomparáveis, como que atingindo a perfeição e chegando mesmo a superá-la, até ao mais-que-perfeito), e que é também, na minha opinião, a minha mãe, e participa activa e vivamente no álbum, com as suas palavras de sapiência advertindo-me para as mais subtis arestas a limar (apesar da sua disponibilidade ser reduzida devido ao facto de passar demasiado tempo a ouvir os Leandro e Leonardo); o Guilherme Lapa (Well Made Mistake, Oblique Rain, My Eyes Inside; www.myspace.com/dramaonbass), que vai compor meia dúzia de três linhas de baixo, dizer-me que sou uma merda e que tenho que melhorar muito se quero mesmo que ele participe nesta bosta de projecto, e ainda co-escrever a música que me falta para acabar o esqueleto daquilo que será o alinhamento do álbum; o Ismael Silva (www.myspace.com/bloopreinsz), que apesar de gostar dos the Smiths, de ser um gajo ligado ao teatro e de aceitar a música electrónica como uma expressão legítima de arte, é, não obstante, bom mocinho e interpretará um número indetermindado de canções no álbum; o Hugo Gil (Quetzal's Feather, Metáfora; www.myspace.com/hugogil), que é o guitarrista mais sentimental de sempre de acordo com os cânones culturais do mundo ocidental, imprimirá o seu romantismo indelével em pelo menos um dos vinte e sete temas do álbum; o André Tavares (Solid, Death Will Come, Genoflie, Preguiçoso; www.myspace.com/andregen ou www.myspace.com/preguicoso) que nasceu no berço de ouro da música, e apesar de ter fugido cedo dessa sua herança musical para abraçar a carreira da comida, retornou ainda a tempo àquilo que lhe corre no sangue, e é a única pessoa que eu conheço capaz de cantar a música que vai cantar da maneira que eu quero que a cantem; o Telmo Ferreira (traumacultural.blogspot.com), escritor, no sentido em que escreve cenas, e ilustre estudante do relativamente prestigiosíssimo curso de Filosofia da Faculdade de Letras do Porto, vai contribuir nesta pura manifestação de arte popular ao dar métrica a algumas das suas palavras para que sejam letras de uma ou outra cançoneta; a Joana Rodrigues (the Sticks & Stones & the Broken Bones; www.myspace.com/perfectcycle), professora de música, exímia realizadora de massa à bolonhesa e vocalista de serviço, vai também interpretar uns temas; e o etc.
Isto, atenção, leitorzinho(a), é só uma coisa que eu escrevi por estar com algum tempo livre - não faças disto a tua bíblia. Aguarda que hei-de escrever uma coisa moderadamente séria e rigorosa sobre o álbum. Aguarda. Mas também não penses que a minha vida é isto. Eu tenho mais que fazer, pá. Estudo e tudo. E não te esqueças que estou inclusivamente a gravar esta merda. Mas também, foda-se, demoro menos tempo a redigir uma cagada destas do que tu a lê-la. Ahah. Estou a brincar contigo, leitorzinho(a). Quem faz isso é o Marcelo Rebelo de Sousa. E o Bruno Aleixo. Eu não. E isto não são cagadas. São cagadas muito bem escritas, num português irrepreensível. Ah pois é. Não, agora a sério, vou dormir, meu. Para me despedir, felicito-te, leitor(a) anónimo(a), por teres lido esta fiel redacção. Tens a minha garantia de seis meses de que, agora que leste tudo isto, estás sem dúvida mais culto e inteligente. E digo-te mais ainda: se voltares a ler tudo de novo, vais ficar mais bonito(a). A sério. Ò lê lá... Estás a ver? Pois, pá. Eu disse-te. Agora não te admires se ficares sexualmente mais atraente quando comprares o álbum...são coisas da vida, pronto.
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3 comentários:
gostei da tua prepotência, mas em vez falar tanto, manda-me mas é o album de uma vez páh! ou pensas que és algum tipo de Mr. Bungle?:P
ahahah :D ainda não está pronto pá!
eu já algumas músicas, e só te digo, justino, que vai valer a espera. sê paciente. :P
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