"ticket in my hand and thinking wish i didn't hand it in.
'cause who said sailing is fine?
leaving behind all the faces that i might replace if i tried on that long ride,
looking deep inside but i don't want to look so deep inside yet".
'cause who said sailing is fine?
leaving behind all the faces that i might replace if i tried on that long ride,
looking deep inside but i don't want to look so deep inside yet".
há sempre um motivo por trás da viagem.
até hoje, justificava-a com o desejo de partir.
de, em vinte minutos, decidir tudo o que seria indispensável,
enfiá-lo num saco, e desaparecer.
sentir um peso a cair-me lentamente das costas, do olhar, da consciência,
a cada quilometro que me afastava, a cada traço que via mudar na paisagem.
desta vez, porém, a vontade é de permanecer. manter-me nestas ruas, nestes cafés,
que de alguma forma me fazem sentir próximo, confortável.
aqui não há silêncio, antes um diálogo constante com o exterior.
como a rua de cedofeita, por exemplo,
que é habitada por um casal de fantasmas.
tal como a da torrinha.
um deles é em tudo igual a mim, do nariz para baixo.
só não lhe reconheço a zona do olhar, demasiado distante daquela que encontro num espelho.
o outro é inconstante,
preocupa-se demasiado com pequenas coisas que não deveriam interessar a fantasmas,
passa a vida a falar de sapatos, por exemplo,
se são os que melhor condizem com o vestido, com a estação,
com os carros que estão estacionados,
se são os sapatos que melhor condizem com o universo.
às vezes passam por mim e sorrio porque vejo que são os dois fantasmas mais felizes do além,
ou, talvez não seja isso,
mas porque há definitivamente algo inominável naqueles vultos que não encontro em mais lado algum.
outras vezes caminham em paralelo, um em cada passeio,
a berrar um ao outro como dois atrasados mentais.
quer dizer, olhando com atenção,
só um é que realmente parece estar irritado,
o outro ora encolhe os ombros, ora se ri, ora amua e fuma um cigarro.
e nunca passa disso.
se não lhes conhecesse os nomes, chamar-lhes-ia peace & love,
como alguém certamente já lhes há-de ter chamado noutra vida,
por algum motivo semelhante.
sei que, quando partir, não os vou voltar a encontrar.
e as ruas vão deixar de falar.
os fantasmas eventualmente vão desaparecer, ganhar vida própria.
e o exterior vai deixar de ser um narrador, para se limitar a ser aquilo que me é externo.
e dizem-me que é esse o caminho.
que me devo rodear de carne e osso,
que devo comer como uma pessoa, dormir como uma pessoa,
sentir-me alguém, recuperar algo que a maria diz que se perdeu na zona do olhar,
viver neste admirável mundo novo e esquecer o outro.
é assim que, desta vez, o motivo para partir é a vontade de ficar.
porque fantasmas não respondem quando lhes falamos, quando lhes escrevemos.
porque, por muito que gostasse de acreditar que sim, não posso ter catorze anos outra vez.
porque, em resumo, por muito que seja confortável sentir-te sempre por perto aqui,
tu já cá não estás, nem sou eu quem está aqui, sentado no magnus,
a ouvir esta música, a beber um café, à espera de nada,
já não somos nós que estamos cá, de facto,
e isto tornou-se uma terra de ninguém.
tenho um bilhete para comprar, uma mala para fazer em vinte minutos,
e muito muito tempo para esperar que outras ruas me contem outras histórias.
dar um ponto-final definitivo a esta narração contínua
e começar por algo mais singelo, como um diário de viagem,
um poema,
ou ficar-me por um rascunho de qualquer coisa que me fale pelo caminho.
1 comentário:
... De volta ao secundário, sim. Gostei muito deste, especialmente.
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