- as pessoas perdem-se da sua fé porque deus abandonou-as.
- ou a fé perdeu-se a si própria e o seu sentido no momento em que as pessoas abandonaram deus. não podes criar um monstro, deixá-lo entregue a si, não acompanhar o seu crescimento e esperar que ele ainda te sirva quando se tiver tornado absolutamente independente da sua relação contigo.
- e eu que passei a vida edificando deuses. atribuindo um significado específico e grandioso a cada um deles, lutando até lhes dar vida, orgulhoso de poder ver a sua luz a brilhar por muito distante que me encontrasse.
- e esses teus deuses de que sempre te gabaste - todos os teus paradigmas existênciais materializados em relações, em rostos para os quais apontavas singularmente, em projectos que nada mais eram que projecções dos recantos mais obscuros do teu ego - que cadeirão reservaram para ti nos seus tronos, em que núvem te é permitido flutuar nos seus céus, quantos metros quadrados estão em teu nome nos seus montes olímpos?
- acho que é como toda a questão de nietzsche sobre como deus morreu. não lhe podemos cobrar um poder para nos salvar, quando nós nem sequer tivemos a força, ou presença, suficiente para o mantermos vivo.
- mas os teus deuses não morreram, senhor victor frankenstein, olha à tua volta: há monstros que devoram, que esgotam, que sujam, que cagam para cima de cada bocadinho do teu mundo. e cada um deles tem em si as tuas impressões digitais, o teu toque, algo teu. e eu noto o embaraço com que tu os observas, a distância a que te manténs, a desilusão que se apodera de todos os teus traços visíveis. pois tudo o que vês são espelhos partidos, que não te devolvem a ti mas a fragmentos do que era suposto teres vindo a ser um dia.
- provavelmente, o único monstro em toda esta história sou eu. e eles não passam de aberrações que não tiveram sorte na herança genética que os acompanha desde o nascimento.
- mas eles só são aberrações se vistos através das lentes distorcidas das tuas expectativas. na verdade, em tudo o que construíste, a intuição nunca te enganou, os princípios eram sempre os melhores possíveis. não houve um único filho teu que não brilhasse, e que não tenha continuado a crescer mesmo depois de ter saído de casa. e tu, não és o monstro, no fundo, não passas um velho esgotado ainda na tua juventude. foste, todos estes anos, simultaneamente, o útero que deu vida aos teus sonhos e a faca que cortou o cordão-umbilical que te ligava a eles. agora, precisas de cortar o cordão que te liga a ti próprio, reinventar-te, morrer e ser enterrado num quintal. renascer e, um dia, germinar como uma laranjeira pronta a dar vida a nova fruta.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
habemus blogae
Enviar um comentário