Ou a ilusão de que o tempo volta para trás, ou que permanece
imóvel, ou que eventualmente avança nalguma direcção.
Três anos que nada mais fazem do que um piscar o olho à
eternidade e as inúmeras vidas que neles se atravessaram – efémeras e
inconstantes, sempre em queda livre sempre em sentidos díspares. Como montanhas
de pés, uns a testar a atracção gravítica de qualquer um dos abismos da nossa
humanidade, os outros a materializar impulsos de alcançar o próximo degrau da
cadeia de produção inseparável da nossa natureza.
Todas as coisas que possuímos com o olhar. As vibrações
incessantes do tudo que nos é externo. O gajo que se atirou para a frente do
comboio, para a frente dos nossos olhos, para a frente do que está à frente e ali
permaneceu enquanto indivíduo e dali saiu cadáver. A desconhecida que disse...
de mim podes retirar qualquer resposta, qualquer reacção, qualquer
possibilidade, qualquer resposta que não seja o meu nome, qualquer reacção que
não se prolongue mais que este encontro, qualquer possibilidade excepto a de
destruir o que do futuro não nos pertence. E as outras coisas mais modestas à
primeira vista, que também marcam os seus contornos na retina dos nossos
tempos. Plantas que em segundos se tornam selvas. Vestidos que deslizam dos
ombros aos tornozelos sem necessidade de desabotoar um botão, de correr um
fecho, de puxar um único fio. Recortes de revista encaixilhados e expostos em
paredes de quarto – num momento nada mais que tentativas forçadas de procura de
novas formas de expressão artística contemporâneas, noutro dão lugar a janelas
tridimensionais para cidades impossíveis de materializar devido aos excessos de côr, de
luminosidade, de oxigénio e, como não poderia deixar de ser, de profunda e bela
humanidade.
As coisas que vamos achando, perdendo e trocando na zona do
olhar. As que os dedos anseiam por conhecer e tratar por tu. As que os lábios
procuram repetir e aperfeiçoar e aprofundar e moldar e fazer crescer e fazer
sorrir e preencher de significado e... e essas e todas as outras repetições
labiais que nada mais procuram do que a edificação de utopias em carne e osso. Enfim,
as coisas e as vidas que se limitam a passar pelos nossos olhos enquanto nos
sentamos em frente ao pano branco onde a eternidade se entretem a projectar
singularidades aleatórias.
A inocência e a consciência de tudo, essas sim, as duas verdadeiras
amantes impossíveis que os olhos não desistem de tentar conquistar e conciliar mas que, tal como
todas as amantes, vêm e partem e nada deixam na zona do olhar.
Nada se ganha, nada se recupera, tudo se limita a passar na
zona do olhar. É assim que perdemos e mantemos e acumulamos aquilo que vamos
podendo ver, com olhos que não se repetem, com imagens que não são possíveis
descrever excepto na memória, com o sentimento que é assim que temos de aceitar
a parte que nos compete nos anos que por cá passamos. E era assim que te devia
ter respondido, há três anos, há demasiadas vidas e coisas antes de ter
aprendido como me falar e de aceitar como te dizias.
1 comentário:
Temos maiúsculas já. Evolução? (:
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