14 de janeiro de 2009

terrível romeu

Ontem acabei de reler o Romeu e Julieta e deparei-me com algo muito curioso...Já repararam que a imagem que temos de Romeu é de um jovem honrado, doce, apaixonado? E já pensaram em como essa concepção não podia estar mais longe da verdade? O Romeu com que me deparei é tudo menos honrado, doce ou bom partido. A única verdade é que está apaixonado, mas até dessa paixão desconfio. Digam-me lá, como é que é possível que alguém se apaixone, a ponto de se suicidar, após um primeiro olhar? Nem sequer me falem de amor à primeira vista porque todos sabemos que isso não existe e, até temos outro nome para isso: tesão! Portanto, aceito que me digam que ele sente uma enorme tusa pela virgem(será?) Julieta. À parte disso, falemos da apetência natural de Romeu para matar e como essa veia assassina é completamente esquecida por quem olha com olhos ingénuos para a tragédia de Shakespeare. Um homem que se diz perdidamente apaixonado passados dois minutos de conhecer uma virgem, mata o primo dela e como se isso não bastasse, e para morrer mais descansadinho, ainda mata o pretendente de Julieta antes de ceifar a própria vida, será MESMO um homem bom e um romântico incondicional? Não será esse homem um tarado sexual do renascimento? Não será, por último, extremamente estúpido considerar a história de Romeu e Julieta como o paradigma de um grande amor. Peço-vos que me iluminem com as vossas opiniões que sinto já todo o meu sistema de crenças desfalecer num ápice.

5 comentários:

André disse...

O gajo que não queria escrever no blogue cultural fez o texto mais susceptível de ser qualificado como "cultural" que este blogue já viu. É tão irónico como o maior cânone de amante de sempre ser tão somente um pervertido de collants :)

Mas, à parte disso, convém distinguir aquilo que designamos metaforicamente de "tesão do mijo" do outro tipo de tesão - o mais belo, sincero e honesto dos tesões - que, na minha opinião, pela sua natureza espontânea, se eleva por vezes mais alto que o amor.

Não querendo fazer um comentário pretensiosamente mais alargado que o próprio texto-tema, despeço-me na expectativa que te mantenhas em actividade. Beijinho *** :D

telmo disse...

permite-me discordar.

dizes que ninguém se apaixona, ao primeiro olhar, ao ponto de se suicidar, e chamas antes a isso de tesão. mas... achas que uma tesão leva alguém a suicidar-se por outra? ninguém morre de tesão por outra pessoa. mesmo de amor é raro encontrar em qualquer autopsia. não acho mesmo que passe por aí.

e sim, ele é um assassíno. mas isso em nada faz dele um não-romântico, talvez, no contexto da peça, o torne mais. os grandes romances e as grandes tragédias costumam andar de mão dada.

fora isso, sim, de jovem honrado e doce ou bom partido, ele tem pouco, ou, o pouco que tem é discutível.

isto tudo porque querias a minha opinião sobre o assunto. em relação ao texto, opiniões à parte, concordo com a opinião que me precede do pervertido de rastas. :) e despeço-me na mesma expectativa.

Justino Estevão disse...

Srº Telmo se há pessoas que se matam porque tiram más notas porque é que será difícil crer em pessoas que se matam por tesão. Pensa que é como se estivessem na ponte da Arrábida e os tomates fossem a âncora (por estarem cheios) que os impulsiona para baixo. Insistes em chamar grande romance...aquilo passou-se numa questão de dias; quando muito um romancezito efémero, nem chega a ser como as paixões de Verão que chegam a durar - imagina tu; duas a três semanas. Aprecio a crítica e é apenas por respeito que te remeto esta.

telmo disse...

não sei se estou no melhor estado possível para te estar já a responder, mas também não faço ideia do que seja o melhor dos estados possíveis, por isso...

desculpa a opinião contrária num único pormenor, porque gostei do texto e da tua perspectiva - que achei original e bem argumentada.

e despeço-me sem acrescentar nada ao assunto mas com igual respeito. :P

André disse...

Já eu é raro suicidar-me. Sou um gajo mais de punhetas do que de suicídios. Contudo acho que, à pala dessa história do amor, estamos aqui a deixar um pouco de parte a importantíssima problemática presente na dicotomia tesão do mijo/tesão sincero e honesto, que puerilmente e na melhor das minhas intenções, trouxe para a discussão.

Isto porque me parece que o que está aqui em questão é a própria natureza do tesão do Romeu, porquanto o facto de o amor ser apenas uma estirpe de tesão, é tão somente uma mera premissa, tão susceptível de ser falaciosa como a premissa que defende o tesão shakespeariano como o mais belo dos tesões. E aqui tenho que concordar com o Tininho. Acredito piamente que o tesão shakespeariano não passa de tesão do mijo, sem o brilho e a glória que tantos lhe aclamam.

Daí, e em jeito de conclusão, termino assim esta pequena dissertação, com a ambição da legitimação e com a minha nova máxima, esta enorme dádiva para a investigação literária, sobre tão importante dramaturgo: a tragédia "Romeu e Julieta" é o paradigma de um grande tesão.