8 de abril de 2012

Recuperar algo que disseste que se perdeu na zona do olhar

Ou a ilusão de que o tempo volta para trás, ou que permanece imóvel, ou que eventualmente avança nalguma direcção.

Três anos que nada mais fazem do que um piscar o olho à eternidade e as inúmeras vidas que neles se atravessaram – efémeras e inconstantes, sempre em queda livre sempre em sentidos díspares. Como montanhas de pés, uns a testar a atracção gravítica de qualquer um dos abismos da nossa humanidade, os outros a materializar impulsos de alcançar o próximo degrau da cadeia de produção inseparável da nossa natureza.

Todas as coisas que possuímos com o olhar. As vibrações incessantes do tudo que nos é externo. O gajo que se atirou para a frente do comboio, para a frente dos nossos olhos, para a frente do que está à frente e ali permaneceu enquanto indivíduo e dali saiu cadáver. A desconhecida que disse... de mim podes retirar qualquer resposta, qualquer reacção, qualquer possibilidade, qualquer resposta que não seja o meu nome, qualquer reacção que não se prolongue mais que este encontro, qualquer possibilidade excepto a de destruir o que do futuro não nos pertence. E as outras coisas mais modestas à primeira vista, que também marcam os seus contornos na retina dos nossos tempos. Plantas que em segundos se tornam selvas. Vestidos que deslizam dos ombros aos tornozelos sem necessidade de desabotoar um botão, de correr um fecho, de puxar um único fio. Recortes de revista encaixilhados e expostos em paredes de quarto – num momento nada mais que tentativas forçadas de procura de novas formas de expressão artística contemporâneas, noutro dão lugar a janelas tridimensionais para cidades impossíveis  de materializar devido aos excessos de côr, de luminosidade, de oxigénio e, como não poderia deixar de ser, de profunda e bela humanidade.

As coisas que vamos achando, perdendo e trocando na zona do olhar. As que os dedos anseiam por conhecer e tratar por tu. As que os lábios procuram repetir e aperfeiçoar e aprofundar e moldar e fazer crescer e fazer sorrir e preencher de significado e... e essas e todas as outras repetições labiais que nada mais procuram do que a edificação de utopias em carne e osso. Enfim, as coisas e as vidas que se limitam a passar pelos nossos olhos enquanto nos sentamos em frente ao pano branco onde a eternidade se entretem a projectar singularidades aleatórias.

A inocência e a consciência de tudo, essas sim, as duas verdadeiras amantes impossíveis que os olhos não desistem de tentar conquistar e conciliar mas que, tal como todas as amantes, vêm e partem e nada deixam na zona do olhar.

Nada se ganha, nada se recupera, tudo se limita a passar na zona do olhar. É assim que perdemos e mantemos e acumulamos aquilo que vamos podendo ver, com olhos que não se repetem, com imagens que não são possíveis descrever excepto na memória, com o sentimento que é assim que temos de aceitar a parte que nos compete nos anos que por cá passamos. E era assim que te devia ter respondido, há três anos, há demasiadas vidas e coisas antes de ter aprendido como me falar e de aceitar como te dizias.

1 comentário:

Maria disse...

Temos maiúsculas já. Evolução? (: